Da completude do Humano ou a Questão do Pecado

Da completude do Humano ou a Questão do Pecado

Data: 22 de julho de 2019

Somente Deus, Senhor da vida e do universo, é Santo! (Ap 4, 8; Ap 15, 14). Portanto, não há Santidade fora do seu alcance. Todos aqueles que alçaram sua humanidade à Santidade, o fizeram através da comunhão crescente com a fonte da Divindade. Dela receberam graça sobre graça (Jo 1, 16; Ef 1, 23; Ef 3, 19), para se tornarem a verdareira imagem e semelhança de Deus. Pai e Filho fincaram, então, morada em seus corações (Jo 14, 23), para que esta imagem se tornasse no Santo (Col 3, 10).

À medida que esta comunhão se estreita e se agiganta, o homem velho, e seu espírito, vão se moldando mais e mais à imagem do Santo e, paulatinamente, passa a ser cada vez mais o Homem Novo, que renasce no Espírito à medida que se amalgama, se funde, se torna Um, com a fonte da Santidade (Col 3, 10; Jo 3, 3-6). É o retorno às origens, cujo livre arbítrio levou o homem, unilateralmente, à cisão (Lc 15, 11-31). Tende, portanto, a mergulhar mais e mais, no mistério da revelação e consequente compreensão da Santíssima Trindade (Ef 1, 17s; Jo 17, 21-23), pois como está escrito, “Quem me vê, vê o Pai “(Jo 14, 10s). Há, portanto, que se travar o embate entre o homem velho, preso ao seu Ego, sua concepção de vida, suas verdades e seus desejos, e o Homem Novo (Jo 3, 3-6), que renasce para o Santo, completude da sua humanidade (Jo 8, 24; Ap 1, 8).

De fato, não se pode servir a dois senhores, pois há que se agradar a um e desprezar o outro (Mt 6, 24). Embora a acumulação de riquezas possa ser, muitas vezes, um grande obstáculo à manifestação da Graça, há, no entanto, outra forma de riqueza que se constitui em obstáculo muitíssimo maior que os bens materiais. E esta tem sido o desvio de rota que a humanidade tem optado mais e mais ao longo de sua história, o Antropocentrismo, que tem suas origens no iluminismo, e na revolução cientifica. “O pecado do mundo é não acreditar no Filho do Homem” (Jo 8, 24; 16, 8s)”, única via de acesso à humanização, à Santidade, à Iluminação. Não se trata de fazer apologia à ignorância ou decretar morte ao conhecimento. Só para ilustrar, hoje vive-se três vezes mais que 2000 anos atrás, graças ao enorme progresso científico.

Após séculos de tirania caracterizada pelas monarquias que dominaram a Europa, associada à “pedagogia do medo, amparada pela condenação ao inferno”, amplamente utilizada pelo Papado (até os mais crédulos teriam dificuldade em acreditar na Misericórdia Suprema!!), sem contar com as, assim chamadas, “guerras santas” e o “santo ofício da inquisição”, dentre outras barbáries, de perseguida a Igreja passou a perseguidora. No entanto, quando o homem resolveu enfrentar esses podres poderes e, auxiliado por Gutenberg e a imprensa, estava dado o grito inicial de libertação dos grilhões que reinaram nas sombras, o qual foi se ampliando até os dias de hoje. Ocorre que ao ceifar o joio que imperava no seio da Igreja e da sociedade, o trigo foi igualmente ceifado, decretando-se na mesma dose, morte ao lado autêntico da Cristandade.

Porém, este lado autêntico da Igreja, felizmente, iluminado pelo Espírito Santo que a conduz séculos afora, para além dos inúmeros falsos pastores/profetas, tipo Alexandre VI, etc, (Mt 24, 11s, 23), gerou e gera Trigos da estirpe de Paulo, Agostinho, Franciscos, Madre Teresa, Dom Helder, Paulo Evaristo, etc, e tantos outros santos/iluminados anônimos, que se constituem em sinais de contradição para os atiradores de elite de plantão da intelectualidade. Como a toda ação corresponde uma reação na mesma intensidade e direção, porém em sentido contrário (3ª Lei da Física Newtoniana), restaurar aquilo que a Igreja contribuiu de modo nefasto para afastar o homem daquilo que, na sua autenticidade, pode lhe conferir vida plena, só mesmo o Espírito Santo de Deus poderia devolvê-la ao seu curso libertador, Santo/Profético: “Vai procurar este povo e dize-lhe: em vão escutareis, não compreendereis; em vão olhareis, não vereis. O coração desse povo se endureceu; taparam os ouvidos, fecharam os olhos; para que os olhos não vejam e os ouvidos não ouçam, e o coração não compreenda, e não se convertam. Eu tê-los ia curados” (Is 6, 9s).

Existem aqueles que do muito que sabem, percebem que pouco conhecem, como, por exemplo, Isaac Newton “Tenho a impressão de ter sido somente um garoto brincando e me divertindo na praia, encontrando de vez em quando, um seixo mais liso ou uma concha mais bonita que o normal, enquanto que o grande oceano da verdade permanece todo desconhecido diante de mim”.

No entanto, verifica-se na atualidade que grandes contingentes humanos e sociedades inteiras, depositam no conhecimento científico a razão mais profunda de suas realizações e ao fazê-lo se apropriam de duas virtudes teológicas a fé e a esperança. É extremamente louvável desfrutar dos incontáveis benefícios gerados pelas ciências, afinal a sapiência é um dom do Espírito Supremo que é derramado aos homens para a vida plena. Porém, estes benefícios não contemplam o Eu mais profundo do homem, seu Espírito, o EGO SUM. O conhecimento e a espiritualidade deveriam, portanto, ser indissociáveis na promoção mais ampla, plena do humano.

Ocorre que ao fazer a opção pelo Antropo, e erigir seus altares para outro Deus, afinal o homem necessita de símbolos, o sapiens se dissocia e se distancia mais e mais da manifestação da graça, aprisionando-se em sua cegueira, embora o tesouro do Espirito adormeça abafado em suas penumbras, aguardando uma chance. É como se a criança se rebelasse contra os pais, e ignorasse todos os meios que estes lhe provêm para sua existência plena. Não se pode servir a dois senhores. Compreende-se, portanto, o porquê “Bem-aventurados os pobres de espírito, pois deles é o Reino” (Mt 6, 3).

A incompatibilidade da salutar convivência das Ciências com a Espiritualidade reside no fato de que não é do domínio das Ciências, muito menos demonstrável pelo método científico, o acesso ao universo do Espírito. Portanto, as ciências, não apenas não podem provar, assim como, igualmente, não podem excluir o que só se adentra apenas pela revelação (Ef 1, 17) e se consuma na vivência da fé e nisso consiste a cegueira das cegueiras: “O pecado do mundo é não acreditar no Filho do Homem” (Jo 8, 24; 16, 8s), aquele que é ao mesmo tempo a luz do mundo (Jo 8, 12), a fonte de água viva (Jo 7, 38; Ap 7, 17) e o pão da vida (Jo 6, 35). Todos que vivenciaram o amor humano sabem que amar é promover o outro em todas suas potencialidades, mas que o objetivo só é alcançado através de renúncias múltiplas (Jo 15, 15).

O que dizer, então, do amor de Deus para com os homens? (Jo 10, 10). Se a completude do humano, o Santo, o Iluminado, só se consuma na ressonância com o Espírito Supremo (Ap, 4, 8; Ap 15, 14) não devemos nos aprisionar às nossas falhas, mas antes, dar o salto que reduza essa distancia e sintonizar a frequência que pulsa nossos corações àquela que faz pulsar o coração do universo (Jo 15, 4s).

(para Glória de Deus-Pai)

Que a alma cresça, o coração transborde e o espírito se liberte”.

25 de Março de 2018 (domingo de Ramos).

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