A Espiritualidade – Outra Dimensão do Ser

A Espiritualidade – Outra Dimensão do Ser

Data: 6 de julho de 2019

Quando pensamos em espiritualidade nos vem à mente alguém “tipo” iluminado, religioso, discípulo fervoroso, monge, mestre, etc, diversos esteriótipos que frequentemente, parecem ser desprovidos de carne e osso, que vivem meditando, como se não tivessem os pés fincados na terra, descolados do mundo real, com contas a pagar, deveres a cumprir e necessidades fisiológicas/psíquicas básicas como qualquer ser humano.

De fato, isso é apenas um esteriótipo!. Ora esta concepção é a forma mais inadequada para se adentrar o mistério, pois a nossa realidade comparada à dos “iluminados”, parece ser tão distante que se torna uma meta quase que inatingível. Deus não exige que sejamos iluminados ou santos para viver nossa espiritualidade, pois Ele sabe que ser Santo é uma qualidade que só a Ele pertence, sabe que somos moldados na argila. Exemplo: (Se eu quiser falar com Deus (G. Gil)).

Quando contemplamos estes esteriótipos, não consideramos que o momento presente de cada um deles foi construído ao longo de suas respectivas histórias de vida, com todas suas humanidades, certamente uma trajetória longa, pois ninguém nasce iluminado ou santo. e portanto, em algum momento de suas vidas eles começaram a dar mais atenção à dimensão espiritual do ser, passando ao longo do tempo a construir suas Vivências Espirituais.

As mais variadas circunstâncias da vida podem nos despertar para esta atenção à dimensão espiritual. Por exemplo, Paulo estava a caminho de Damasco onde iria em perseguição aos cristãos quando “Uma luz do céu o envolveu de claridade. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia – Saulo, Saulo por que me persegues ?. Saulo levantou-se do chão mas não enxergava… (At 9,3-8)”..,   ou utilizando um exemplo mais próximo: “uma pessoa me convidou para experimentar um aula de yoga, eu fui e fui gostando e gostando”… Bom, também se Vc não gostasse, pois era o próprio Angelo o mestre…, seria difícil encontrar algo melhor, não é mesmo?!

Mas o que nos diz Cristo, a respeito: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e produzirdes frutos (Jo 15,16)”. ou ainda Santo Agostinho: “Vós que a vosso encontro me levastes e me destes ainda a esperança de sempre mais vos encontrar”, ou S. Paulo: “Assim também o Espírito socorre a nossa fraqueza. Pois não sabemos o que pedir como convém; mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis, e aquele que perscruta os corações sabe qual o desejo do Espírito; pois é segundo Deus que ele intercede pelos santos” (Rm 8,26s).

Portanto, assim como a luz irrompe e se antecipa apagando a escuridão da noite, também Deus, que é Espírito, toma a iniciativa, despertando, dissipando a cegueira humana, ou sua ignorância e nos introduzindo no universo do Seu mundo, dando nos a chance de cada vez mais encontrá-lo. Não poderia ser diferente, pois é Deus quem tem o domínio do Espírito, enquanto nós sabemos lidar e somos envolvidos com a diversas situações do cotidiano, com seus afazeres, seus labores, suas alegrias e suas dores, etc, e pouco nos ocupamos do Espírito. Qual é o espaço dedicado a Ele?. (Maria e Marta!!).

Qual a maturidade da nossa Vivência Espiritual?. Se formos sinceros, poderemos admitir que pouco compreendemos do Espírito, que somos como crianças diante de Deus e seu universo que é do Espírito.

Como essa intermediação entre as manifestações de Deus e os homens acontece?. Como não vemos Deus, essa comunicação, que se sustenta e se mantém estritamente pela fé, ocorre de maneira sensitiva, tocando os corações e mentes daqueles que O auxiliarão a decifrar seus sinais para que se torne Presença entre os homens.

Os Decifradores de Sinais, no que se refere à Espiritualidade, são facilitadores da percepção ou entendimento do mistério mais profundo do ser, de onde tudo emana, isto é, Deus, sua face oculta, sagrada. Atuam como mensageiros, que ao lhes serem reveladas facetas do Todo, transferem essas mensagens aos respectivos núcleos humanos, induzindo-lhes mudanças em suas percepções e consequentemente, podendo, eventualmente, alterar suas condutas. Estes Decifradores, ou Mensageiros, recebem diferentes denominações conforme as facetas de seus domínios específicos. Assim, são rabinos (judaísmo), monges (budistas), médiuns (espíritas), pastores (protestantes), mestres (yoga), padres (católicos), etc. Em sua liberdade, no entanto, Deus pode se manifestar, e se manifesta, a quaisquer outras pessoas que não recebam necessariamente estas denominações.

Se assumirmos que a regra de ouro que perpassa todas as religiões ou filosofias é algo que se assemelha a “Faça aos outros tudo o que desejares que façam a ti”, então compreenderemos que, o que de fato importa para Deus, cuja essência é Amor (1Jo 4, 8), não são os rótulos ostentados por diferentes religiões ou filosofias em suas manifestações externas. Pois, Deus é Espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espirito e verdade (Jo 4,24). Portanto, o que realmente importa é a mudança interior, ou seja, a descoberta paulatina do Homem Interior, seu Espírito, propiciada pela vivência de sua Espiritualidade.

Que o Deus de NSJC, vos conceda, segundo a riqueza da sua Glória, que vós sejais fortalecidos em poder pelo seu Espírito no homem interior, que Cristo habite pela fé em vossos Corações e que sejais arraigados e fundados no Amor. Assim tereis condições para compreender com todos os Santos qual a largura e o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer o Amor de Cristo que excede a todo o conhecimento, para que sejais plenificados com toda a plenitude de Deus (Ef 3, 16-19).

Assim como nascemos, engatinhamos, aprendemos a ler e escrever, nos tornamos adultos, diferentes também são as etapas da vivência espiritual. Como dito anteriormente, esta vivência se mantém e sustenta pela fé. Podemos, a grosso modo, subdividi-la em três estágios, embora em muitas situações os limites entre eles sejam tênues.

Primeiro estágio,vencida a batalha do ateísmo, se admite ou reconhece a existência de um Espírito Superior, Deus. Observa-se que o Sujeito estabelece a relação com Deus lhe encaminhando algum pedido para que seja atendido, alcance graça. São características as manifestações do tipo: “minha avó está muito doente no hospital e vimos te pedir Senhor.., ou Senhor, perdi meu cachorro na praia e já são dois dias e não conseguimos encontrá-lo”… Exemplo: “Mestre, queremos que nos concedas (Tiago e João) tudo o que te pedirmos. Que quereis que vos faça?. Conceda-nos que nos sentemos na tua glória um à tua direita e outro à tua esquerda (Mc 10, 35-37)“.

Um segundo estágio, é comum se observar que o Sujeito estabelece a relação com Deus se colocando como aquele que manifesta/revela a presença de Deus. São características as manifestações do tipo: “Senhor, que eu te reconheça em todas as pessoas que hoje eu encontrar… ou Senhor, que eu seja amoroso, e possa amá-lo em todos aqueles que estão necessitados,.. ou Senhor, que eu seja portador da sua misericórdia, seja paciente com minha irmã”. Exemplo:

O terceiro estágio, no entanto, pressupõe maior profundidade da vivência da fé, observa-se que o Sujeito estabelece a relação com Deus se colocando como instrumento da sua manifestação/revelação. Deus se manifesta/revela através dele. São características as manifestações do tipo: “Senhor, seja feita a tua vontade.., ou Senhor, sei que tu me sondas e me conheces, eis me aqui..,.ou Senhor, faça se em mim conforme a Vossa vontade..”. Exemplo: “Minha alma glorifica o Senhor, meu espirito exulta de alegria em Deus meu Salvador. (Lc1, 46)”. Louvor e gratidão!.

Espera-se que a vivência da espiritualidade possa impactar gradativamente a percepção de Deus em nossas vidas através do fortalecimento do homem interior. e, assim, possibilite que nos tornemos verdadeiramente sua Imagem e Semelhança e possamos viver na liberdade dos filhos de Deus, identificados pelo Selo do Amor e da Caridade (1Cor 13, 1-13).

“Pelos seus frutos os conhecereis. Por acaso colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos cardos?” (Mt 7,16).

“Quão belos são os pés daqueles que anunciam a Boa-Nova” (Is 52,7).

Claudio A. Bonjardim

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