A Constituição do homem

A Constituição do homem

Data: 21 de junho de 2019

(Caio Miranda)

O homem é uma miniatura do Universo. Este, constituído de sete planos e aquele dispondo de sete “corpos” para se expressar. Para cada um dos planos da Natureza, até o Nirvânico, possui a criatura determinado corpo, a fim de nele poder viver, agir e colher experiências.

O nosso Ser fundamental, também chamado Homem Real ou Jivatman, não é nenhum desses “corpos”, mas algo que, aplicado sobre eles, lhes transmite a vida e realiza estados de consciência diversos. Cada “corpo” está constituído de matéria retirada do plano em que deverá agir. Assim o corpo físico, formado de material colhido no plano físico do Universo, destina-se a fornecer ao Homem o veículo com que ele opera, vive e adquire consciência naquele plano. Esse corpo dispõe de sentidos físicos, através dos quais podemos assinalar a presença do mundo físico que nos rodeia. Da atividade e interação do Jivatman, do seu corpo físico e do plano físico da natureza, resulta uma consciência que podemos chamar “consciência física do homem”.

Com o corpo astral tem o homem capacidade de sentir e agir no plano do mesmo nome, resultando daí um outro estado de consciência, decorrente da percepção, através dos sentidos astrais, da realidade astral do Universo. O mesmo se dá com o corpo mental e com os demais corpos a ele superiores. Vemos então que nos é possível realizar diversos estados de consciência, conforme o corpo com que estivermos agindo. Os “corpos” se destinam, portanto, a dar ao homem meios suficientes para viver e agir nos diversos planos da Natureza, adquirindo consciência deles.

Logo que, pela morte, vai o homem abandonando sucessivamente seus diversos “corpos”, vão estes se desagregando e o receptivo material retornando ao plano de onde foi retirado. Daí podemos perceber o engano em que laboram aqueles que julgam ser o corpo eles mesmos, pensando que as necessidades dos “corpos” representam necessidades do Homem Real. O Jivatmam, por sua própria natureza divina, não necessita de nada. É eterno e incontingente, consciente de si mesmo, sábio e feliz.

Uma noção que necessita estabelecer-se com clareza em  vosso espírito é que o corpo físico constitui o suporte dos demais, funcionando como verdadeiro foco de atração e coesão para a matéria dos outros corpos mais sutis. Atraídos pela matéria física, vão as partículas dos  demais veículos modelando-se à semelhança do corpo denso de matéria tal que, após a morte deste, conservam aqueles a mesma aparência que o físico manteve em vida, até se desagregarem por completo, quando por sua vez, morrem também.

Normalmente, o corpo denso resiste até cerca de dois dias após a morte física, quando então começa a se desagregar. O duplo- etérico permanece íntegro até cerca de oito dias após a morte do veículo denso e somente em casos especiais pode durar mais tempo. Já com o astral não se dá o mesmo. Sua vida estende-se por prazo bastante variável, que poderá atingir até um milênio. As circunstâncias que determinam uma maior ou menos sobrevivência do veículo astral, ligam-se sempre à qualidade de energia emocional com o qual o mesmo foi constituído. Um individuo altamente passional poderá viver em astral largo tempo após ter morrido fisicamente. Seu tormento será inenarrável, posto que não dispõe ele de corpo físico para satisfazer seus desejos, transformando em trabalho (atos) a energia que contém.

Somente após a desagregação total de seus corpos inferiores (físico, etérico, astral e mental concreto) pode o Homem Real reencarnar, o que faz por meio de seu corpo superior, denominado “corpo causal” ou “tríade superior”(mental superior, búddhico e átmico).

Pela importância que tem o corpo físico em seu papel de suporte dos demais é que os Yóguis lhe dão especial importância, havendo mesmo um ramo do yoga que trata da saúde física, denominado Hatha-Yoga. Como viver, no plano físico é quase sinônimo de respirar, percebereis a importância que adquire em toda a doutrina iniciática o estudo e a prática da respiração correta, rogo-vos que não vos descuideis deste aspecto dos ensinamentos. “Ninguém pode ser poeta com dor de dentes”, dizem os Yoguis, querendo significar que, sem uma saúde perfeita, é absolutamente impossível alcançar estados elevados de consciência.

O estudo dos veículos ou “corpos’ do homem é fundamental para todos aqueles que desejam realmente penetrar mais profundamente nos grandes segredos da Natureza e da Vida. O  desconhecimento dessa parte da sabedoria tradicional resulta geralmente na grande confusão daqueles que se limitam a consultar os livros encontrados à venda. Estes são muitas das vezes, os responsáveis pelas falsas noções adquiridas por muitos dos que se candidatam, com sinceridade e entusiasmo, ao estudo de qualquer ramo do espiritualismo.

Com o estudo detalhado dos planos do universo e dos veículos com que o homem neles opera, descortina-se um amplo horizonte para todos os estudantes de Yoga, permitindo-lhes compreender perfeitamente muitos problemas e fenômenos tidos como inexplicáveis, sobretudo os chamados fenômenos espíritas

A cultura ocidental é bastante elementar no que tange os problemas e fatos  não diretamente percebidos pelos sentidos físicos comuns. Toda nossa  ciência é meramente especulativa, pesquisando principalmente os efeitos sem se importar muito com as causas. O sono e o sonho por exemplo, são coisas, para muitos, ainda não suficientemente esclarecidas, havendo mesmo grande divergência entre os diversos sistemas e doutrinas de psicologia, no que se relaciona à elucidação desses estados de consciência. Muitos autores asseguram que o sonho nada mais é que um processo de libertação dos recalques adquiridos em vigília, sem contudo penetrarem o sutil mecanismo através do qual a personalidade labora para produzir aquela libertação.

também o estado sonambúlico, a hipnose, o transe, o êxtase e vários outros estados de consciência, só muito vagamente são abordados pela ciência, que se limita a constatá-los sem apresentar uma explicação plausível para o fenômeno.

entretanto, onde a confusão se apresenta mais dolorosa é justamente na determinação e definição do “eu”, do Ego e da consciência. Obras há que confundem uma coisa com a outra, estabelecendo no espírito do estudante terríveis dificuldades, quando não o ceticismo e a descrença. Por muitos autores o “eu” e o Ego são tomados como sendo o Ser fundamental do homem, a parteessencial e imortal que em nós reside. Ora, o “eu” e o Ego não existem por  si mesmos. São uma mera consequência e nessa condição cessam quando cessa a conjuntura de elementos que lhes deu origem. Não é possível tomá-los na mesma acepção do Homem Real ou Jvatmam. Este drm, significa a presença de Deus em nós, a centelha divina que nos anima, imutável e eterna, feira da mesma essência que Bram e, assim, não sujeita ao nascimento e à morte.

Esse Jivatmam é que se aplica sôbre nossos diversos “corpos” ou veículos, dando origem ao aparecimento de diversos estados de  consciência que são traduzidos por diversas espécies de “eu”. Quando aplicado sobre os veículos chamados inferiores, provoca um estado de consciência também inferior, de pequeno horizonte, de expansão limitada, traduzido por um “eu” da mesma maneira inferior. Se aplicado sobre os mais altos veículos humanos, disso resulta uma expansão notável de consciência, um estado de ser cujos limites são demasiado amplos, traduzido então por um “super eu”, um “eu” superior ou Ego.

No fundo da matéria, em qualquer dos seus estados, desde o mais simples átomo até o mais complexo Ser Planetário, jaz sempre uma parte imaterial que lhe mantem a vida, impelindo a forma que a contém no caminho da evolução, para melhor poder expressar aquela mesma parte interior. Essa parte recôndita e divina, que toma vários nomes no decorrer das “cadeias evolutivas”, é que é o nosso Ser verdadeiro, fundamental e essencial. Chama-se “mônada” nos minerais, Alma-Grupo nos vegetais e animais, Jivatmam no homem e algo mais grandioso no Seres de nível superior ao homem

A evolução da matéria e da forma, em todos os seus estágios, além de provocada pelo Purusha, tem por único objetivo permitir que essa “alma das coisas”, essa vida interior e divina, possa cada vez mais e melhor expressar-se. Se o mineral não possuisse no seu âmago algo superior a ele mesmo, jamais evoluiria para um estado superior ao próprio mineral. Não aperfeiçoaria sua forma e sua estrutura para revelar aquela Vida íntima que o anima. Todavia, passando de mineral a vegetal com a sucessão das “cadeias”, permite que aquela Vida se expresse de maneira mais ampla e bela, demonstrando já parte de sua inteligência, muito de sua sensibilidade, dando ao organismo que a contém faculdades, predicados e atributos, como capacidade de adaptação, possibilidade de lutar para viver e propagar a espécie.

Evoluindo para animal na cadeia seguinte, já apresenta melhores condições para que aquela mesma Vida interna se revele de maneira mais completa, dispondo de um organismo mais complexamente estruturado, onde, além da inteligência e da sensibilidade, possa também a vontade se exprimir, revelando ainda capacidade de amar e lutar para sobreviver, conservando a própria espécie de maneira mais nobre e bela, locomovendo-se e podendo trabalhar para modificar o meio em que vive, defendendo-se dos ataques da natureza e dos semelhantes. Finalmente, como homem, além das faculdades superiores de que é dotado, como a mente raciocinante, discernimento e a auto-consciência, é-lhe dada a possibilidade de vir a tornar-se um Iniciado, com capacidade para revelar, em tôda sua plenitude e grandeza, a divina Vida interior do Jivatmam.

Quando, na imensa jornada da evolução, toda a matéria do Univeso tiver atingido o ponto de poder revelar integralmente a sublime Vida do Logos, terá então terminado um Dia de Bram, e o Universo se desfará.

Categorias: